Na segunda década do século passado, durante as reuniões secretas que prepararam a criação da Reserva Federal norte-americana, o banco central dos EUA, é atribuída ao grande empresário da indústria automóvel, Henry Ford, a seguinte citação: “É óptimo que as pessoas não entendam o nosso sistema bancário e monetário, pois se o entendessem, acredito que haveria uma revolução antes de amanhã de manhã.”
Aqueles que compreendem o nosso sistema financeiro têm perfeitamente a noção do poder que advém do mesmo. Um dos membros de uma das mais importantes famílias de banqueiros, Mayer Amschel Bauer Rothschild, tinha a perfeita noção de tal poder, ao ter ficado para a história com a seguinte frase: “Dê-me o controle do dinheiro de uma nação e não me importo com quem faz as leis”. Talvez a frase que melhor ilustra a actual situação que vivemos.
Efectivamente, a grande maioria da população não compreende como funciona o nosso sistema bancário. Se soubesse que a emissão de dinheiro é realizada pela emissão de dívida, onde não ocorre a produção de qualquer bem ou serviço, talvez uma revolta tivesse lugar, tal como afirmava Hery Ford. Mas como, perguntará o leitor? Emissão de dívida para produzir dinheiro!
Vamos supor um banco comercial a quem é solicitado um crédito habitação no valor de 200 mil euros. O que acontece? O banco diz que a conta à ordem do cliente foi creditada nesse valor e, ao mesmo tempo, regista uma dívida do cliente ao banco no mesmo montante; seguidamente, o cliente passa um cheque ou realiza uma transferência – regra geral, uma operação realizada pelo banco no momento da escritura – a favor do vendedor do imóvel. Simples! Sim, simples, sem entregar nada à sociedade. Para realizar tal magia, basta uma licença bancária atribuída pelo banco central para se passar a produzir nova moeda do “ar”.
O mesmo acontece com o banco central, a fonte de toda a emissão da nova massa monetária. A título de exemplo, podemos utilizar uma emissão de dívida por parte de um estado europeu. Vamos supor que o estado português deseja incrementar a sua dívida pública em mil milhões de Euros, através da emissão de novas obrigações do tesouro.
Para tal, anuncia um leilão a realizar numa dada data, em que apenas podem participar os bancos comerciais para o efeito (Primary Dealer). Para realizar as suas propostas, solicitam uma linha de crédito ao banco central. Como? A conta do banco comercial junto do banco central é creditada e, ao mesmo tempo, este regista uma dívida do banco comercial ao banco central. Simples, não é? Um verdadeiro truque de prestidigitação.
Seguidamente, o estado português vê a sua conta creditada em mil milhões de Euros e entrega títulos de dívida – obrigações do tesouro – aos bancos comerciais. Para eliminar a sua dívida junto do banco central, os bancos comerciais vendem estas obrigações no mercado secundário ao banco central, obviamente acima do preço que pagaram por elas no leilão original, eliminando a sua dívida e retendo os respectivos lucros. Ocorreu alguma produção? Não caro leitor, apenas engenharia financeira, onde o controlo da produção de dinheiro permite gerar dinheiro a favor de um cartel bancário.
Como os bancos centrais decidiram realizar planos de estímulos à economia sem fim – na verdade simples impressão massiva de dinheiro do “ar” -, os governos viram as suas agendas tremendamente facilitadas: comprar votos através da atribuição de empregos públicos e distribuir prebendas e subsídios com dinheiro impresso do “ar”, fica tremendamente facilitado.
Desta forma, não nos pode espantar o crescimento da dívida pública. Para imprimir dinheiro de forma massiva é necessário que existam obrigações do tesouro disponíveis no mercado por forma a que o banco central possa imprimir dinheiro do “ar” e adquiri-las; em conclusão: o sistema bancário actual cria moeda a partir de dívida.
Neste contexto, não nos pode espantar o crescimento imparável da dívida pública norte-americana nas duas últimas décadas, tal como podemos observar na Figura 1. Independentemente da cor ou ideologia da administração, a dívida pública tem duplicado a cada dois mandatos; tendo em conta esta tendência, a dívida pública norte-americana daqui a três/quatros anos estará em 40 biliões de USD (12 zeros, atenção!).
Figura 1
Para suportar tais incrementos de dívida pública, apenas o banco central pode adquirir tais volumes de obrigações emitidas pelo tesouro norte-americano, emitindo, para esse efeito, dinheiro do “ar” em quantidades nunca vistas. Em 2020, tal como podemos constatar na Figura 1, a dívida pública subiu 4 biliões, cerca de 20% do PIB norte-americano; em 2021, o ritmo abrandou, mas mesmo assim irá representar aproximadamente 8% do PIB norte-americano (o PIB norte-americano situa-se em 23 biliões de USD), apesar de tudo um enorme défice fiscal.
Até 2020, a inflação – o aumento de massa monetária -, apenas se tinha reflectido nos valores mobiliários – dívida pública, dívida de empresas, acções de empresas -, em particular aqueles que estão cotados em bolsas norte-americanas; no entanto, a partir de 2020, começámos a assistir a uma assinalável subida do custo de vida, por mais que as autoridades nos digam o contrário.
Na Figura 2, podemos observar a subida que está a ocorrer na maioria das matérias-primas que dependemos para viver: o café sobe 54%, o Petróleo 42%, a Aveia 37%, entre outras subidas muito acima daquilo que nos dizem ser a inflação oficial. Por outro lado, o imobiliário e as rendas da habitação continuam a subir, não porque as casas valham mais, mas pelo dinheiro precisamente valer menos!
Figura 2
O leitor perguntará: mas eles podem imprimir dinheiro, retirando-lhe valor e gerando inflação com total impunidade? Sim, ao contrário de mim e do leitor. Se fizéssemos o mesmo, isto é, imprimir dinheiro do “ar”, o nosso destino seria seguramente o presídio, tal como estabelece o artigo 262.º, com o título “Contrafacção de moeda”, do Código Penal português: “Quem praticar contrafacção de moeda, com intenção de a pôr em circulação como legítima, é punido com pena de prisão de três a doze anos.
A frase de Mayer Amschel Bauer Rothschild faz agora todo o sentido: para uns, a impunidade, os detentores das licenças bancárias e que não se molestam com as leis, para outros, o severo castigo por fazerem exactamente o mesmo.
Como mantêm a aceitação do sistema pelo grande público? Utilizam os argumentos do bem: estimular a economia, suportar a economia, acelerar o crescimento económico, proporcionar tempo aos governos para implementar reformas estruturais, ajudar a combater as alterações climáticas – vá-se lá saber como uma impressora de dinheiro resolve questões climáticas -, ou mesmo ajudar a superar a crise pandémica! Repare: é tudo pelo seu bem, não é para ajudar governos falidos, nem para torná-los crescentemente dependentes de uma elite financeira. Nada disso!
O que é evidente é que os bancos centrais irão destruir o dinheiro, depois de já terem tentado tudo para manter à tona o enorme esquema em pirâmide que constitui o actual sistema financeiro. Como irão proceder a partir daqui? Vão imprimir até ao infinito, o que for preciso para manter estados de mão estendida, à espera da próxima esmola, enquanto o dinheiro que temos no bolso vale cada vez menos. Seguidamente, irão impor-nos a sua moeda digital, eliminar o dinheiro físico e tentar estabelecer um monopólio absoluto para a sua moeda digital, algo que sempre desfrutaram e que não gostam de perder.
Esta é a principal razão que leva cada vez mais pessoas a negociarem nos mercados financeiros e a investirem em diferentes classes de ativos como: acções, matérias-primas ou criptomoedas. Porquê? Cada vez mais, estes são os ativos que irão proteger as pessoas da inflação massiva que se avizinha. Os bancos centrais não irão parar até à completa destruição do dinheiro, pois a inflação é a única forma de aliviar os custos da dívida monstruosa dos governos, que estão totalmente dependentes e manietados pelos bancos centrais: os verdadeiros donos disto tudo.
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