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Principiante? Como começar a investir na Bolsa de Valores

O leitor está a iniciar-se na bolsa de valores. É a primeira vez que tenta realizar um investimento em bolsa e não sabe como começar? Pretende iniciar-se neste mundo sem arriscar demasiado o seu capital? Que aspectos deverá considerar para rendibilizar o seu capital em bolsa, evitando riscos desnecessários?

Ao longo do presente artigo, irei dar a conhecer ao leitor um conjunto de aspectos que deverá ter em conta antes de aventurar-se na bolsa de valores. 

Efectivamente, se deseja iniciar-se nos mercados financeiros, o leitor está no caminho certo: actualmente, é praticamente a única forma de rendibilizar poupanças, dado o actual contexto de repressão financeira. Os bancos remuneram os depósitos a prazo com taxas de juro de 0%, ou mesmo negativas – realidade existente já em alguns países.

Diversificação do investimento

Quando se está a negociar em bolsa, uma regra é essencial: não colocar todos os ovos no mesmo cesto

Se investisse 100 USD, no final de 2013, em acções da empresa Tesla, no dia 22 de Outubro de 2021, o seu investimento estaria a valer 3024 USD. Teria multiplicado o seu capital 30 vezes.

Pelo lado negativo, um investimento de 100 EUR, no final de 2013, em acções do Banco Comercial Português (BCP), no dia 22 de Outubro de 2021, valeria apenas 12,60 Euros, resultando numa perda de 87%. 

Por estes dois exemplos, podemos constatar que a diversificação é uma estratégia importante, visando evitar que um determinado investimento, que apresente perdas substanciais, não afecte a totalidade da sua carteira de investimentos em bolsa.

Hoje, uma estratégia de diversificação pode ser realizada de diversas formas.

Vamos analisar três possíveis estratégias:

  • Geografia
  • Classe de Activos
  • Sectores de Actividade

Vamos então indagar a estratégia que consiste em afectar fracções do capital por diferentes geografias. 

Na Figura 1, podemos observar a rendibilidade em Euros entre o final de 2013 e outubro de 2021 de distintos índices bolsistas. 

Seguidamente, listamos os índices bolsistas que se encontram na Figura 1: O Nasdaq 100 (EUA), o S&P 500 (EUA), o Dow Jones 30 (EUA), o Russel 2000 (EUA), o DAX 30 (Alemanha), o CAC 40 (França), o Stoxx 600 (Europa), o FTSE 100 (Reino Unido), o IBEX 35 (Espanha) e o PSI 20 (Portugal).

Figura 1

Comparar a rentabilidade dos diferentes índices bolsistas. Investir na bolsa

Como podemos constatar, entre o final de 2013 e Outubro de 2021, cada uma das geografias apresentou um desempenho completamente distinto. 

O investimento de 100 Euros no principal índice norte-americano, o S&P 500, também conhecido por sp500, estaria a valer 246 Euros em Outubro de 2021; pelo lado negativo, o mesmo investimento no índice PSI 20, o principal índice bolsista português, valeria apenas 88 Euros; ou seja, determinadas geografias apresentaram desempenhos excepcionais, enquanto outras, significaram perdas avultadas para os investidores nos últimos 8 anos, caso utilizássemos apenas posições longas (adiante explicado o significado).

A diversificação nos mercados financeiros também pode ser realizada através do investimento em diferentes classes de activos.

De que se trata?
São activos financeiros que apresentam características, direitos de propriedade e emissores distintos.

As principais classes de activos são as seguintes: (i) Acções de Empresas; (ii) Obrigações; (iii) Matérias-Primas; (iv) Divisas; e (v) Criptomoedas.

No caso das Acções de Empresas, trata-se do activo mais conhecido pela generalidade do público. Pode tratar-se de uma acção, por exemplo, da empresa Galp ou da empresa Apple; é um título de propriedade que representa uma fracção do capital de uma empresa a cotar numa determinada bolsa de valores.

O proprietário destes títulos, denominado accionista, tem direito a receber uma parte dos lucros da empresa, caso assim seja decidido pelos accionistas, denominado dividendo.

E relação às Obrigações, uma classe igualmente conhecida do público, é um título de dívida que confere ao seu proprietário o direito a receber juros, designado por cupão, e o valor facial do título de propriedade. As Obrigações podem ser emitidas por empresas, municípios, estados ou federações de estados (dívida dos Estados Unidos; mais recentemente, a União Europeia). 

As Matérias-Primas englobam um leque alargado de activos.
Podemos separá-las nas seguintes categorias:

  • (i) agrícolas (café, soja…);
  • (ii) energia (Petróleo, Gasolina…),
  • (iv) Metais Industriais (aço, alumínio…),
  • (iv) Metais Preciosos (Ouro – XAU, Prata- XAG, Platina…).

As Divisas são uma classe de activos que resulta da emissão por parte de banco centrais e bancos comerciais. Até ao final de Bretton Woods, em Agosto de 1971, as divisas, directa ou indirectamente, eram convertíveis em Ouro.
Na prática, o seu nome era uma unidade de peso de metais preciosos, como o dólar e a libra esterlina. A partir dessa data, todos as divisas passaram a ser
fiat; ou seja, são uma divisa por decreto governamental, deixando de serem convertíveis em metais preciosos. Define-se o mercado onde são negociadas por Forex

Estes activos são negociados em pares, com cada par a ser representado por três letras. Vamos, por exemplo, analisar o par cambial EURUSD – o par cambial mais negociado no mundo. No caso do USD, as duas primeiras letras correspondem ao país (US- United States) e a terceira ao nome da divida, neste caso o dólar.

O EUR corresponde ao Euro, sendo uma excepção a esta regra, dado tratar-se de uma zona monetária que agrega vários países europeus.
Para melhor conhecer este mercado, assista ao nosso webinar
Forex Trading

As Criptomoedas são moedas digitais em que as transacções são verificadas e os registos são mantidos através de um sistema descentralizado, a designada tecnologia blockchain, em lugar de uma entidade central, ou seja, um banco central como ocorre para as divisas. As criptomoedas mais conhecidas são a Bitcoin (BTC) e o Ethereum (ETH).

Seguidamente, temos os activos financeiros que resultam da agregação de vários activos financeiros anteriormente mencionados: (i) os índices bolsistas e os (ii) fundos de investimento. 

Os primeiros, visam medir o desempenho das principais acções cotadas nas bolsas de de valores de um determinado país – também existem índices que medem o desempenho de um conjunto de matérias-primas, por exemplo, o Rogers International Commodity Index, ou de outras classes de activos – as possibilidades são infinitas.

Os segundos são uma forma de investimento passivo. Em lugar do leitor estar a implementar uma estratégia de diversificação, decidindo x% ao activo A, y% ao activo B, existe um gestor profissional que toma essas decisões no seu lugar, seguindo uma determinada estratégia de investimento – replicar o índice sp500, por exemplo.

Existem fundos que estão cotados em bolsa, como os ETFs, que facilitam a sua aquisição e liquidação por parte dos investidores.

Confuso sobre todas as possibilidade de investimento que existem? Consulte o programa do nosso curso de iniciação em Bolsa.

Na Figura 2, podemos consultar a evolução de distintas classes de activos no período compreendido entre o final de 2020 e o dia 22 de Outubro de 2021; os desempenhos são díspares e, em alguns casos, de sentido contrário. 

Figura 2

Evolução das classes de activos. Investir na bolsa de valores

No caso das matérias-primas, podemos verificar uma valorização na sua grande maioria, com destaque para as subidas acentuadas do Gás Natural, Aveia, Petróleo e Café. Em sentido contrário, destacam-se as desvalorizações da Madeira e Paládio.  

Nas criptomoedas, destaque para a Solana que apresenta uma rentabilidade no ano 2021 (à data de 22 Outubro) de 12 660 %. Todas as restantes listadas, apresentam rentabilidades bastante elevadas, ainda que bem diferentes entre si. 

No caso do mercado cambial, destaque para a valorização do rublo russo e do dólar canadiano frente ao dólar americano. Em sentido contrário, destaque para a desvalorização do euro e do iene face ao dólar.

Mais uma vez, podemos concluir que podemos diversificar também por classes de activos, atendendo às diferenças de desempenho, em alguns casos de sentido contrário, algo crítico para uma estratégia de diversificação. 

Por fim, nos mercados financeiros também podemos realizar uma diversificação por sector de actividade.
Por exemplo, regra geral, durante as crises financeiras, as empresas fornecedoras de serviços de utilidade pública (gás, electricidade, água, Internet…) tendem a apresentar um melhor desempenho relativo que os demais sectores. 

No caso de expansão económica, o sector tecnológico apresenta o melhor desempenho relativo face aos demais. É importante que o investidor tenha em conta o ciclo económico em que a economia se encontra, antes de decidir que sectores de actividade seleccionar para a sua carteira.

Como podemos constatar na Figura 3, entre o final de 2020 e 22 de Outubro de 2021, as empresas constituintes do índice S&P 500 (sp500) do sector da Energia, utilizando uma média simples, registaram uma valorização média no preço das suas acções de 68%. Esta valorização foi suportada pela subida do preço do petróleo; já o sector de bens de consumo, ainda que apresente igualmente uma rentabilidade positiva, valorizou 4%.

Figura 3

Rentabilidade por sectores de actividade. Investir na bolsa de valores

Na Figura 3, podemos concluir que a análise do desempenho associado a cada sector de actividade é crítico para uma estratégia de diversificação. 

Análise Fundamental vs Análise Técnica

Depois do investidor decidir a geografia, a classe de activos e o sector de actividade que, no seu entender, apresenta o maior potencial de valorização ou desvalorização – também podemos beneficiar com as quedas – , importa agora explicar a necessidade de decidir os activos financeiros que irão fazer parte da carteira de investimento, de acordo com estratégia de diversificação previamente definida.

Para analisar um determinado activo financeiro, duas análises podem ser adoptadas:

  • (i) Fundamental
  • (ii) Técnica.

A Análise Fundamental como funciona?

Trata-se de uma análise apenas acessível a profissionais ou de alguém com conhecimentos profundos de contabilidade, análise financeira e conhecimentos profundos – mercado onde a empresa se insere; produção, procura e oferta de uma determinada matéria-prima, por exemplo.

Esta análise obriga a conhecer em profundidade o balanço da empresa (endividamento, solvência, liquidez dos activos, rotação dos activos…), a demonstração de resultados (margens do negócio, crescimento de receitas e custos…) e o fluxo de caixa (consumo ou libertação de tesouraria em actividades operacionais ou de investimento). 

Obriga também à estimação dos resultados futuros da empresa, com o propósito de calcular indicadores; estes permitem verificar se uma empresa se encontra sub ou sobre valorizada. 

A maioria desses indicadores resulta do cálculo de múltiplos.
Um dos múltiplos mais utilizados pelos profissionais de bolsa é o PER
Price Earnings Ratio. Trata-se da divisão do valor da capitalização bolsista pelos resultados líquidos de uma dada empresa. 

Tradicionalmente, quando existiam taxas de juro positivas, sem a actual repressão financeira dos bancos centrais, os PERs situavam-se entre 10 e 20, em que o primeiro valor ocorria durante as depressões e o segundo durante expansões económicas

Se uma empresa tinha um PER baixo face a empresas similares, podíamos afirmar que estava subvalorizada, podendo, como conclusão, existir um potencial de valorização. Esta foi uma das regras aplicadas ao longo da história, no entanto, tudo se tem alterado recentemente.

Agora tudo é diferente.

Podemos ter uma empresa como a Tesla que apresenta um PER de 294 (22 de Outubro de 2021, Fonte: Yahoo), levando-nos a concluir que deveria ser altura de vender, dada a possível sobrevalorização.
No entanto, numa realidade de taxas de juro 0%, e tal como podemos observar na Figura 4, a Tesla não pára de subir em bolsa: aqui entra a Análise Técnica

Figura 4

Gráfico semanal Ações Tesla. Investir na Bolsa

A Análise Técnica visa identificar tendências ascendentes e descendentes; assim que a mesma seja detectada, o investidor tenta apanhar o “comboio”, visando participar da viagem numa dada direcção – subida ou descida.

Na teoria parece fácil; na realidade, obriga a uma preparação muito exigente por parte do investidor, ao contrário do que à partida se possa imaginar. Para conhecer mais sobre análise técnica, assista ao nosso webinar gratuito Introdução à Análise Técnica .

Se repararmos na Figura 4, a Tesla negoceia numa tendência ascendente. Entenda-se tendência ascendente uma sucessão de máximos e mínimos crescentes ao longo de um determinado período de tempo. E essa tendência ascendente é delimitada por uma linha de suporte, traçada desde março de 2020. E repare, sempre que preço se aproximou da linha de suporte,  o preço subiu.

O que é uma região de suporte?

Uma região de suporte, é uma região de preços situada sempre abaixo da cotação do preço do activo e caracterizada por existir uma enorme pressão compradora. Por outras palavras, é uma região de preços onde existe a probabilidade do preço subir ; ao contrário de uma resistência, que é caracterizada pela probabilidade de existir forte pressão vendedora e consequentemente o preço cair.

Com a identificação de suportes e resistências, o investidor pode determinar objectivos de saída e entrada, bem como obter a confirmação de que uma determinada tendência irá continuar ou inverter. No caso da Amazon, ao romper os 2 mil USD por acção, uma resistência, foi a confirmação que a tendência ascendente iria continuar.

Além deste aspecto, a Análise Técnica visa identificar padrões gráficos que se repetem, indicando, com elevada probabilidade, que uma determinada tendência irá continuar ou inverter, no momento que o preço as rompe.

No momento em que o preço rompe uma Bandeira ou uma Cunha de acordo com a tendência dominante, confirmam que a mesma irá continuar. Existem múltiplas formações de continuação de tendência que importa conhecer.

No caso de um Duplo-Topo ou de um Ombro-Cabeça-Ombro, estamos na presença de um padrão de reversão de tendência. Existem múltiplas formações, tanto de continuação como de inversão, que importa conhecer no momento de se iniciar na bolsa de valores.

As formações obtidas a partir da utilização de Velas Japonesas permite igualmente detectar a continuação ou inversão de tendência.

Outro aspecto que importa dominar no âmbito da Análise Técnica são os níveis de Fibonacci; estes servem para medir correcções de uma determinada tendência, em particular os níveis 38,2%, 50,0% e os 61,8%. Trata-se de níveis importantes que podem determinar a entrada ou não de uma determinada posição. Caso o nível seja respeitado, poderá indicar um sinal de entrada da posição, com a possibilidade de limitar perdas (ordem Stop)

Esta metodologia também serve para determinar níveis de expansão de uma determinada tendência, nomeadamente os níveis 161,8%, 261,8% e 423,6%. 

Por fim, e talvez o aspecto mais relevante da Análise Técnica, consiste no exame de divergências.

De que se trata?
Verificar se outros indicadores confirmam ou não a evolução gráfica do preço, confirmando, desta forma, a consistência de uma dada tendência. Estas comparações podem ser realizadas com o volume, o indicador MACD ou com o indicador RSI; ou muitos outros. 

Interessado em aprender análise técnica, conheça o programa do nosso curso de Análise Técnica

Negociar – abrir e fechar posições no mercado

Em primeiro lugar, o leitor deve ter claro as geografias, os sectores e as classes de activos onde deseja posicionar-se, ou seja, os parâmetros da sua estratégia. Seguidamente, analisa os activos financeiros que cumprem os parâmetros da sua estratégia de diversificação, deve agora tomar uma série de decisões relacionadas com a negociação em bolsa propriamente dita:

  • Deve posicionar-se longo ou curto em determinado activo. Como vimos anteriormente, o PSI 20 encontra-se numa tendência descendente que pode ser explorada através de posições curtas; sem entrar em explicações detalhadas, um curto permite obter ganhos com a queda do preço;
  • De que forma irá cobrir o seu risco cambial, caso decida investir em activos financeiros denominados em divisas distintas da divisa base da sua conta de corretagem. A título de exemplo, como proteger-se de um investimento em acções da Apple, denominadas em USD, se possui uma conta de corretagem denominada em Euros? Qual o risco desta posição, caso esteja longo em acções da Apple? Neste caso, uma desvalorização do USD frente ao EUR apresenta um risco sério para o seu investimento, mesmo num cenário de subida do preço das acções da Apple;
  • Devo ou não utilizar alavancagem financeira? A alavancagem financeira permite-me obter uma maior exposição com menos capital, facilitando, desta forma, uma estratégia de diversificação. Por outro lado, eleva consideravelmente os riscos, atendendo que amplifica os movimentos do preço dos activos financeiros. Para se investir com alavancagem financeira pode-se recorrer a uma conta-margem, em que a corretora concede crédito para a abertura de posições, ou a instrumentos derivados, como Futuros, Opções e CFDs. O grau de alavancagem que o investidor decide utilizar condiciona a estratégia de entrada e saída de uma dada posição;
  • A estratégia de entrada e saída no momento de abrir uma posição é de extrema importância. O investidor deve antecipadamente conhecer a que preço quer entrar e sair, em caso de perdas ou ganhos. Depois de a ter definido, deve conhecer o tipo de ordens que permitem a implementação da mesma com eficácia. Actualmente, as corretoras oferecem um leque alargado de tipo de ordens, que importa conhecer em detalhe;
  • Por fim, e talvez a mais importante, a gestão do capital afectado a cada posição. Muitos investidores acertam na tendência de um determinado activo, mas como não sabem gerir o capital e a alavancagem são incapazes de tirar proveito do seu acerto, atendendo que a volatilidade do mercado força-os a fechar a posição. 

Em conclusão, como o leitor pode constatar pela leitura deste artigo, investir na bolsa de valores não é para amadores, obriga a uma formação intensiva; caso contrário, a probabilidade de sucesso é reduzida, mesmo impossível. Apesar de tudo, nos dias que correm, é uma das melhores alternativas para a aplicação do aforro. 

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