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Apertem os cintos: a crise bancária só agora começou

Uma vez mais, as famílias americanas estão preocupadas com o facto dos seus depósitos bancários não estarem seguros. Em Março, o Silicon Valley Bank (SVB) e o Signature Bank entraram em falência. Nem dois meses passaram e outro banco – o First Republic Bank – tornou-se a segunda maior falência bancária da história americana. O próximo poderá ser o PacWest Bank. Na Europa, o gigante suíço Credit Suisse, um importante player global, foi adquirido pelo rival UBS num acordo de resgate forçado.

Com vista a interromper uma possível crise bancária, o FED garantiu dinheiro extra para todo o sector e o governo norte-americano abriu um precedente: todos os depósitos estão garantidos independentemente do capital de cada pessoa.

Porque é que isto está a acontecer agora?

A turbulência no sector financeiro faz parte das consequências das políticas monetárias adotadas pelos bancos centrais, nomeadamente a Reserva Federal norte-americana (FED) e o Banco Central Europeu (BCE), os quais aumentaram acentuadamente as taxas de juros durante o último ano para tentar conter o aumento dos preços – inflação.

Depois de anos de taxas de juros praticamente nos 0%, esta subida repentina das taxas para 4% na Europa e para 5,25% nos EUA foi um choque. Os bancos que detêm dívidas emitidas quando as taxas de juros estavam mais baixas viram o valor desses ativos afundar com a subida das taxas.

Quando os clientes entraram em pânico e começaram a retirar o seu dinheiro, os seus balanços não eram fortes o suficiente para suportar essas retiradas de dinheiro.

Que medidas foram adotadas pelas Instituições Governamentais?

Nos EUA, a Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) é responsável por garantir todos os depósitos até $250.000. Mas como o SVB atendia à elite de Silicon Valley, 96% dos seus depositantes estavam acima desse limite. Esses depositantes conheciam o risco e poderiam ter adquirido um seguro privado para cobrir o restante dos seus depósitos. A maioria optou por não fazê-lo.

Contudo, o Departamento do Tesouro, o Fed e o FDIC intervieram para socorrer esses depositantes ricos, garantindo a todos eles que poderiam aceder a todo o seu dinheiro, independentemente do montante depositado. Isso equivale a invadir todas as contas bancárias da América, ricas e pobres, para resgatar a elite de Silicon Valley.

Pior, o Fed está agora a expandir os resgates até mesmo para os bancos solventes, emprestando dinheiro para compensar os seus investimentos falhados ​​pelo preço de compra original. Ou seja, é fingir que essas perdas nunca aconteceram. Imagine comprar um carro, conduzi-lo durante 100.000 km e depois vir dizer que vale o preço original. Para si isso não estaria disponível. Para os banqueiros, é um favor de amigos. Isso não apenas recompensa a imprudência, mas também agrava as perdas para os contribuintes, a menos que os bancos possam reverter milagrosamente as próprias apostas nas taxas de juros que os estão a levar ao precipício, um por um.

E assim, tal como em 2008, bancos imprudentes instigados por políticas imprudentes criaram perdas catastróficas para os ricos e poderosos que, mais uma vez, serão arrancados da população no geral. Os bancos agora têm luz verde para assumir qualquer risco, com a certeza de que as famílias cobrirão a conta.

Importa destacar que, embora esses bancos tenham sido imprudentes, a intervenção dos governos e dos bancos centrais preparou o cenário para este desastre e ameaça combiná-lo com mais resgates no futuro.

É uma crise bancária como a de 2008?

Apesar da origem desta crise não ser a mesma que gerou o subprime em 2008, pode vir a ter uma dimensão muito superior. Em 2008, os 25 bancos que tiveram que fechar portas tinham ativos no valor de $373,6 mil milhões. Na atual crise, que está apenas a começar, os três bancos americanos que faliram até agora tinham $532 mil milhões em ativos. Para além do risco de contágio de uma corrida aos depósitos, muitos bancos americanos estão sobrecarregados de empréstimos de fraca qualidade.

A consolidação do setor bancário está por isso longe de terminar, sendo que para os bancos “grandes demais para falir” será um bom negócio, pois poderão escolher com quem querem ficar entre os concorrentes mais pequenos e o restante será simplesmente liquidado.

Aquilo que poderia evitar um fiasco maior seria um corte nas taxas de juro por parte do Fed, mas isso parece estar cada vez mais difícil de acontecer este ano. 

De que modo é que isto afeta a economia portuguesa?

Se observarmos o que deu origem à falência do SVB, não existe por cá nenhum banco com uma dependência tão grande a um único setor de atividade, com depósitos tão elevados de um número tão pequeno de clientes. E se olharmos unicamente para os bancos que deram origem a esta crise bancária norte-americana, poderemos dizer que não houve qualquer impacto na banca portuguesa.

Contudo, estes são apenas os primeiros relâmpagos de uma tempestade que só agora está a começar, a qual certamente se agravará quando a recessão económica se instalar (como já acontece na Alemanha) e os mercados financeiros de afundarem.

Vai demorar um pouco para que todos os dominós caiam, mas cada vez que um cair, isso indica que o relógio está a contar e o sistema financeiro americano/europeu está a ficar sem tempo.